O mercado de trabalho manteve no trimestre encerrado em janeiro a trajetória de melhora, com sinais positivos, embora ainda não em magnitude que permita uma reação do rendimento médio recebido pelos ocupados. Apesar da influência sazonal de dispensa de trabalhadores temporários, houve geração de vagas puxadas pela formalidade. A avaliação é de Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa de desemprego desceu de 12,1% no trimestre encerrado em outubro de 2021 para 11,2% no trimestre terminado em janeiro de 2022, a taxa mais baixa para este período do ano desde 2016, quando era de 9,6%, mostram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados nesta sexta-feira, 18, pelo IBGE.

“A flexibilização do funcionamento das atividades econômicas e o avanço da vacinação estão permitindo que o funcionamento das atividades seja mais efetivo. Toda a composição desses efeitos contribuiu para que, ao longo de 2021, a taxa de desocupação tivesse essa redução bastante significativa”, disse Beringuy. “A população ocupada atual é maior do que a observada no pré-pandemia”, lembrou.

No trimestre terminado em dezembro de 2021, a taxa de desemprego tinha sido ligeiramente mais baixa, de 11,1%.

“Estou vindo de um novembro e dezembro muito fortes em termos de recuperação (da ocupação). Então dois terços desse trimestre até janeiro, de forma geral, têm os resultados do último bimestre de 2021. A interferência da sazonalidade faz com que os indicadores percam força em janeiro”, explicou Beringuy.

Segundo ela, o recrudescimento da pandemia pelo aumento de contaminações pela variante Ômicron do coronavírus em janeiro pode explicar um pouco da perda de fôlego, vista especialmente na informalidade, mas há a questão sazonal de dispensa de vagas temporárias.

“A questão da Ômicron vem forte, mas foi muito rápida. De fato, o pico dela foi em janeiro”, confirmou a pesquisadora. “Creio que pode ter tido algum efeito sim, mas não a ponto de a gente ver tão claramente nas atividades”, disse.

A entrada do mês de janeiro não alterou a trajetória de recuperação do emprego. A demanda reprimida da população por serviços também pode manter por mais tempo a ocupação no setor, contrariando a tendência de dispensas de início de ano, avaliou a pesquisadora do IBGE.

A população ocupada totalizava 95,428 milhões de pessoas no trimestre até janeiro de 2022. Em um ano, mais 8,214 milhões de pessoas encontraram uma ocupação. Em um trimestre, foram abertas 1,470 milhão de vagas, sendo apenas 313 mil delas na informalidade.

“Nesse trimestre especificamente, quem está impulsionando a população ocupada é a parte formal da ocupação. A ocupação formal respondeu por 79% do crescimento da população ocupada no trimestre até janeiro”, ressaltou Adriana Beringuy. “E esse crescimento da formalidade foi puxado pela carteira de trabalho”, completou.

Em apenas um trimestre, foram abertas 681 mil vagas com carteira assinada no setor privado. Segundo Beringuy, o mercado de trabalho dá sinais positivos.

“A variável que ainda não consegue ter uma recuperação é a questão do rendimento”, frisou. “A massa de renda é sustentada porque tem mais gente trabalhando”, acrescentou.

A renda nominal cresceu 1,7% no trimestre até janeiro ante o trimestre até outubro de 2021, a primeira alta desde o trimestre terminado em maio de 2021. Ao mesmo tempo, a renda real caiu 1,1% no período. A diferença se dá pela inflação, que corroeu o poder de compra dos salários dos trabalhadores no período.

“Provavelmente essa expansão (na renda nominal) vem justamente desse fluxo maior dos trabalhadores com carteira”, disse Beringuy. “Se de fato o poder de compra das famílias diminui, para se manter o patamar de renda domiciliar, é necessário que tenha mais mão de obra em ação, seja a mesma pessoa trabalhando mais horas, ou mais gente trabalhando”.

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