O Brasil tem um bilhete de loteria premiado em mãos, mas prefere rasgar a usá-lo

(*) Gustavo Nascimento

Como ganhar dinheiro com a Amazônia? A pergunta provocativa que titula este texto pode ser respondida de muitas formas. Mas, neste artigo será respondida de maneira igualmente provocadora. Para ganhar dinheiro com a Amazônia é preciso entender que ela não é só “coisa de ambientalista”.  

Explico. Toda vez que se fala da importância da maior floresta tropical do mundo no combate as mudanças climáticas, na regulação do ciclo de chuvas da América do Sul ou da responsabilidade de guardar a maior biodiversidade do planeta, vozes descontentes dizem que isso tudo “é coisa de ambientalistas” que não querem ver o desenvolvimento da região. Este tipo de visão que faz parte do censo comum atrela o desenvolvimento a uma política rudimentar baseada na exploração de recursos naturais de uma forma insustentável. De fato, o correto seria chamar de saqueamento de recursos naturais.

Este pensamento foi formulado durante os governos militares que incentivaram uma ocupação desordenada na Amazônia como forma de enfrentar o “inferno verde”. Mais de 50 anos após o início dessas políticas, a região conta com uma economia baseada no roubo de terras públicas, na extração ilegal de madeira, na pecuária de baixíssima produtividade e no garimpo ilegal. Ou seja, práticas insustentáveis, que não geram renda, emprego ou riqueza para a nação e as comunidades locais.

Para ganhar dinheiro com a Amazônia é necessário romper com esta visão e entender que a floresta em pé é o maior patrimônio financeiro do país. A região ainda guarda uma série de oportunidades financeiras dentro da floresta e fora dela, em regiões já desmatadas, mas subutilizadas, como revela o estudo “O Paradoxo Amazônico”, do projeto Amazônia 2030. 

Mercado de carbono

A redução do desmatamento é uma dessas oportunidades do país lucrar. O promissor mercado de carbono já vem dando mostras de que pode ser muito vantajoso. Um exemplo é a Coalizão LEAF, que oferece pagamento pela redução das emissões por desmatamento e degradação florestal (REDD+) em nível nacional e subnacional. De acordo com a Coalizão, acabar com o desmatamento na Amazônia brasileira até 2030 poderia gerar, ao menos, 18,2 bilhões de dólares (por meio dos mercados de carbono, a um preço mínimo de 10 dólares por tonelada de CO2). Se os preços subirem para 15 dólares por tonelada de CO2, a captação pode chegar a 26 bilhões de dólares.

Restauração florestal

Investir na restauração florestal com espécies nativas para reconstruir a floresta original também é vantajoso financeiramente. A Amazônia Legal possui uma grande área para a restauração. O país já firmou um compromisso de restaurar 12 milhões de hectares da região. Com investimentos relativamente modestos é possível garantir a restauração florestal e receber pagamento pela captura de carbono. 

Produtos da Floresta

Outro caminho possível está na comercialização de produtos compatíveis com a floresta (açaí, frutas tropicais, peixes, castanha-do-pará) e de produtos agroflorestais, como o cacau. Esses produtos são praticamente exclusivos de zonas tropicais e já rendem 300 milhões de dólares por ano ao país. Com investimentos modestos e o fortalecimento de cadeias produtivas, o país poderia multiplicar estes números.

Agropecuária

Apesar de ser vista como vilã, a agropecuária também pode trazer riquezas para a Amazônia. Porém, para tal é necessário investir na produtividade e concentrar os rebanhos nas áreas já desmatadas, ao invés de derrubar floresta para plantar pasto. Existe uma imensa área de 86 milhões de hectares já desmatada que pode atender toda a demanda projetada pelo governo brasileiro para a produção agropecuária até 2030. 

O Brasil possui as condições necessárias para aumentar a produtividade da pecuária para atender as demandas projetadas e ainda sobrariam 37 milhões de hectares de áreas já desmatadas para outros investimentos. Esta área excedente poderia ser usada para aumentar a produção de produtos compatíveis com a floresta (por exemplo, o cacau em sistemas agroflorestais) e para a restauração florestal.

A Amazônia é o bilhete premiado do Brasil, contudo ao invés de utiliza-lo, estamos rasgando este bilhete. As oportunidades existem, mas só trarão retorno à nação com a floresta em pé e isso não é só coisa de ambientalista. 

(*) Gustavo Nascimento é jornalista e coordenador de projetos em O Mundo Que Queremos.

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