O ano de 2020 não tem sido fácil para a população e também para o maior ecossistema do Brasil. A Amazônia está passando pelo seu pior momento e esse acabou sendo o ano com mais queimadas na história.

No estado do Amazonas foram 16.333 queimadas, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que realiza medições desde 1986. Também de acordo com o Inpe, Rondônia registrou 2.190 focos em 20 dias em outubro. E aparentemente não será tão simples resolver esse problema e conseguir que os governantes cheguem em um consenso rápido.

Por isso, vamos te explicar aqui por que você deve se preocupar com as queimadas, como a escolha de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos pode influenciar o Brasil e como essa situação vem sido tratada pelas empresas.

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O que está acontecendo na Amazônia?

A Amazônia está presente em nove nações, sendo elas: Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e França (Guiana Francesa). 60% dela está aqui no Brasil. Ela apresenta um bioma muito diverso, tendo uma em cada dez espécies conhecidas no mundo vivendo lá.

O Nexo Jornal explicou a partir de 10 perguntas e respostas o que está acontecendo nesse ecossistema. Aqui vamos resumir para você entender o principal.

Começando pelo básico: queimadas não são incêndios florestais. A queimada é uma prática milenar da agricultura familiar efetuada com o intuito de conseguir mais áreas para o plantio de lavouras e pastagens.

Quanto está sendo destruído? 3.437.300 milhões de hectares foram destruídos entre janeiro e agosto de 2020. Segundo o jornal, isso equivale a 22 vezes a cidade de São Paulo. Essa é a maior da América Latina, ou seja muito está sendo destruído.

Os incêndios são naturais? Não.

A Amazônia é uma floresta tropical e passa por um processo de evapotranspiração: “A evaporação da água do solo e a transpiração das plantas geram vapor da água e consomem calor, deixando o ambiente mais fresco. Graças a esse microclima úmido e fresco favorecido pelas árvores, a floresta fica protegida dos incêndios.”, afirma o jornal. Diferencia-se dos incêndios na Califórnia, por exemplo, que ocorrem por conta da vegetação ressecada durante a maior parte do ano.

Quais vão ser as consequências das queimadas?

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizou uma pesquisa onde 47% dos brasileiros afirmaram que as queimadas são a principal ameaça ao meio ambiente. Essa porcentagem subiu para 56% quando a pesquisa foi realizada com residentes da área da Amazônia.

Pesquisadores da Holanda, Suécia e Alemanha divulgaram em outubro uma pesquisa na revista Nature Communications que afirma que por conta das queimadas, dos desmatamentos e da redução das chuvas, 40% da Amazônia pode virar uma savana. Esse tipo de ecossistema apresenta baixa vegetação.

Lembra do filme “O Rei Leão”? Os personagens habitam uma savana africana, onde as plantas gramíneas são predominantes, com árvores distanciadas e arbustos isolados.

Essa ideia já havia sido apresentada em outros estudos, mas eles previam que isso não iria acontecer tão cedo. Além da perda da biodiversidade, vai ocorrer uma perda de proteção do clima, pois a Amazônia ajuda a retirar da atmosfera o dióxido de carbono, o CO2.

A fumaça das queimadas pode ser levada a muitos quilômetros de distância e isso pode ter efeitos na saúde, como também pode “reduzir a radiação no ecossistema por causa da absorção da atmosfera, alterar a fotossíntese e prejudicar atividades agrícola.”, afirma Paulo Artaxo, doutor em física atmosférica em entrevista à BBC Brasil.

O que o governo brasileiro busca fazer e por que Joe Biden quer ajudar a Amazônia

O governo brasileiro vem encontrando-se no meio de diversas polêmicas quando o assunto é a Amazônia. O vice-presidente Hamilton Mourão preside o Conselho Nacional da Amazônia e demonstra como sua maior preocupação o desmatamento da região.

Em outubro ele afirmou em entrevista à revista IstoÉ que além do desmatamento, que o combate às queimadas ilegais são uma prioridade do governo. Quando perguntado da visão da comunidade internacional e de ecologistas brasileiros sobre a situação do ecossistema ser catastrófica, ele afirma que a Amazônia não está sendo devastada.

Ainda em outubro, anunciou a prorrocagão da presença das Forças Armadas na Amazônia Legal, por meio do programa Operação Verde Brasil, até abril de 2021. A intenção desse programa é combater o desmatamento ilegal e os focos de incêndio.

No início de novembro o vice-presidente realizou uma viagem com embaixadores de comunidades internacionais na região. Essa viagem surgiu após o governo receber uma carta de oito países europeus (Alemanha, Dinamarca, Itália, França, Holanda, Noruega, Reino Unido e Bélgica) demonstrando preocupação com o desmatamento e alertando que isso poderia prejudicar na compra de produtos brasileiros.

A eleição presidencial dos Estado Unidos contou com Joe Biden sendo eleito no último sábado, dia 7. O seu governo promete diversas ações em prol do meio ambiente, uma delas sendo o retorno dos Estados Unidos para o Acordo de Paris.

Durante os debates eleitorais, Biden afirmou que iria reunir uma força tarefa para encaminhar U$20 bilhões (mais de R$ 100 bilhões) para ajudar a combater os delitos ambientais na região da Amazônia. Essa proposta foi mal recebida pelo governo brasileiro. O presidente Jair Bolsonaro disse que não vai aceitar “subornos” e que essa afirmação era “lamentável”.

Agora, com o Joe Biden eleito, as pautas da Amazônia podem ser fundamentais para decidir as futuras relações entre os Estados Unidos e o Brasil. Nelson Tucci, na coluna Via Sustentável, afirma que ainda é cedo para entender como Biden irá querer agir sobre o ecossistema. Você pode conferir a matéria completa dele aqui.

A ligação entre a Amazônia e as empresas

Como vimos, a queimada é uma prática da agricultura. Junto com o desmatamento e a extração ilegal de madeira, elas repressetam as soluções para interesses econômicos, como a criação de gado, o comércio ilegal de madeira e a produção de soja.

De acordo com Erika Berenguer, pesquisadora sênior do Instituto de Mudanças Ambientais da Universidade de Oxford, em entrevista ao Repórter Brasil, o fogo cria um caminho para a abertura de pastagens. Acontece assim: primeiro a floresta é derrubada, depois o fogo queima a vegetação, e por fim é plantado capim para alimentar os animais.

A Repórter Brasil destaca uma grande área ameaçada pelo desmatamento na cidade de São Félix do Xingu, no Pará. Eles afirmam que nessa região, a JBS comprou gado de um grupo multado pelo Ibama (Instituto Brasileito do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) por desmatar a Amazônia. O grupo é a AgroSB, multado entre 2010 e 2013 em R$ 69,5 milhões. A JBS afirma que quando foi notificada das irregularidades, deixou de comprar por meio dessa empresa. 41,6% do rebanho brasileiro encontra-se hoje na parte que compõe a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão).

Por conta da repercussão negativa que as empresas de pecuária começaram receber, pecuaristas, indústria, restaurantes e varejo se organizaram para ajudar a preservar o ecossistema. Eles afirmam que as principais medidas são: investimento em técnicas de produção que aproveitem melhor a propriedade; aumento da exigência dos frigoríficos aos pecuaristas; o Ministério Público e empresas assumiram compromissos para monitorar e aperfeiçoar a compra de gado; monitoramento dos fornecedores indiretos e discussão de um sistema de pagamento por serviços ambientais.

Em julho deste ano, 38 empresas encaminharam uma carta para o vice-presidente Mourão exigindo providências sobre o desmatamento da Amazônia. Empresas de diversos setores se pronunciaram. A Amaggi, de soja, Marfrig, de proteína animal, a Suzano, de celulose, entre outras como Itaú, Ambev, Natura, Bradesco, Klabin e Shell. Confira a carta completa e todas as empresas que assinaram aqui.

Em setembro de 2019, um grupo de 230 investidores solicitaram às empresas que ajam imediatamente contra o desmatamento. O grupo era responsável por US$ 16,2 trilhões. A ONG Ceres, dos Estados Unidos, foi quem organizou e divulgou o documento.

Com o aumento dos desmatamentos, e agora com as queimadas também, surge um movimento de recuo por meio de investidores que não querem se unir com empresas que não ajudam a preservar a Amazônia. As empresas começam a buscar a preservação, mas muito ainda deve ser feito.

Você, investidor, já percebeu se a empresa que investe, ou quer investir, apresenta um planejamento de cuidados com o meio ambiente?