A criação de 137 mil postos de trabalho em janeiro, mostrada pelos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), evidencia que o mercado de trabalho segue aquecido. Mas, os dados da PNAD mostram uma perda de dinamismo e evidenciam o início de uma desaceleração econômica, avaliam especialistas.
De acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de desemprego no Brasil atingiu 6,5% no trimestre móvel que se encerrou em janeiro. Isto representa uma alta de 0,3 p.p. (ponto percentual) em relação ao trimestre móvel anterior.
A contradição entre a PNAD e o Caged pode ser explicada pelas diferentes metodologias. Enquanto o Caged registra apenas o emprego formal, com carteira assinada, a PNAD considera toda a força de trabalho, incluindo trabalhadores informais e autônomos, explica o professor da Faculdade do Comércio Ricardo Igarashi.
Para o economista Maykon Douglas, a desaceleração da PNAD mostra uma perda gradual de dinamismo que deve se repetir ao longo do ano. “Uma desaceleração da atividade maior que o esperado ajudaria o BC a não apertar tanto a política monetária, mas o momento continua sendo de bastante cautela”, avalia o especialista.
“Creio que os dados trazidos pela PNAD capturaram o início da trajetória de diminuição da atividade econômica”, corrobora Ricardo Julio Rodil, líder de Mercado de Capitais da Crowe Macro Auditores e Consultores.
Porém, essa desaceleração parece estar sendo mais lenta do que esperado. A taxa de desemprego veio menor que o previsto por analistas, que projetavam 6,6%. Para o diretor de educação e certificação da APIMEC Brasil, Marcos Saravalle, isso mostra que há uma divergência entre o governo, que vem tentando acelerar a economia, e o BC (Banco Central), que busca desacelerar a atividade, para conter a inflação.
“O Caged e, agora, PNAD, mostram que a economia continua bastante forte e que o mercado deve esperar uma inflação ao redor de 6%, que é um patamar muito alto e muito distante do centro da meta”, avalia o especialista.
Mesmo com PNAD, contexto ainda reforça perspectivas de alta dos juros
Se ficar ancorada ou seguir aumentando, a PNAD pode gerar uma expectativa positiva no mercado a longo prazo, avalia o economista da Top Gain Bruno Cotrim. Porém, se o Caged continuar mostrando mais geração de emprego, a perspectiva tende a ser negativa, com possibilidades de alta da inflação acima de 5%.
Para Cotrim, mesmo com uma alta na PNAD, o cenário ainda aponta para alta dos juros. Isto é reforçado pela posição de Newton Davi, atual diretor de Política Monetária do BC (Banco Central), que costuma ser mais hawkish, o que pode indicar uma manutenção de juros altos por mais tempo, para evitar um cenário de dominância fiscal.
Em relação aos dados de emprego, o que segue preocupando é a taxa de 38,3% de informalidade, apontada pela PNAD. “Os dados do Caged que foram anunciados ontem mostram uma pequena desaceleração na criação de empregos com carteira assinada, mas deve piorar um pouco com a desaceleração da economia nos próximos tempos”, avalia o coordenador de economia da APIMEC Brasil, Alvaro Bandeira.
Mas, no momento, o que tem gerado mais cautela do mercado são os gastos e incentivos do governo, com programas como o FGTS, Pé-de-meia e Farmácia Popular, diz Cotrim. O analista de investimentos do Andbank Fernando Bresciani explica que essas medidas podem alimentar a inflação.
“Acho que o investidor vai encerrar a semana com muito mais cautela do que ele iniciou”, diz Bresciani. Para Saravalle, enquanto janeiro foi mais positivo, o cenário aponta para um mês de março desafiador.
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