Nos últimos anos, as discussões no mundo dos investimentos foram completamente tomadas pela política e pelos grandes acontecimentos globais, como a guerra e a pandemia. Entretanto, em períodos específicos, conhecidos como temporada de balanços, tal atenção se volta para as empresas.
Especificamente neste trimestre, a temporada de resultados tem sido marcada pelas grandes variações que ela tem gerado nos preços dos ativos. Aqui no Brasil, por exemplo, vimos ontem uma queda histórica no segundo maior banco do país, o Bradesco, de mais de 17%. Lá fora, movimentos similares aconteceram com empresas múltiplas vezes maiores, como foi com a Meta – dona do Facebook – que caiu quase 25% em um único dia.
Ontem, mais de 40 desses balanços empresariais brasileiros foram divulgados e fizemos um resumo de cinco deles que consideramos muito relevantes:
Porto Seguro (PSSA3)
A Porto Seguro apresentou um balanço com melhoras na comparação com o terceiro trimestre de 2021 ao registrar um crescimento de 35,2% em suas receitas 35,2%, atingindo 7,6 bilhões de reais. No entanto, os custos e despesas também se elevaram, com isso, o lucro operacional finalizou o período com 164 milhões de reais, uma queda de 17,7% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Já o resultado financeiro foi positivo em 160 milhões de reais, revertendo o desempenho negativo do 3T21 de -37,1 milhões de reais. Assim, a Porto Seguro auferiu um lucro líquido de 273 milhões de reais, uma expansão de 354% na comparação ano contra ano. O Retorno sobre Patrimônio (ROE) foi de 11,3%, um aumento de 2,3 pontos percentuais na comparação com o terceiro trimestre de 2021. Dessa forma, observamos a Porto Seguro construindo uma melhor safra de seguros para os próximos trimestres.
Banco do Brasil (BBAS3)
Com a divulgação feita ontem, o Banco do Brasil dobrou suas receitas ao atingir 184 bilhões de reais nos nove primeiros meses de 2022, puxado principalmente pela ampliação na carteira de crédito e operações com valores mobiliários. Já as provisões para devedores duvidosos não cresceram na mesma proporção, fechando o trimestre em 15,5 bilhões de reais, aumentando apenas 15% na comparação com mesmo período de 2021. Teremos que aguardar os próximos balanços para saber se essa expansão do crédito por parte do BB foi acertada ou se o banco, assim como o Bradesco e o Santander, precisará aumentar suas provisões na sequência.
Com o provisionamento mais baixo, a instituição financeira auferiu um lucro líquido de 22,4 bilhões no acumulado entre janeiro e setembro de 2022, uma elevação de 55% na comparação ano contra ano. Como mencionamos, o banco aumentou muito o crédito no período, sem aumentar as reservas para perdas nas mesmas proporções, portanto, teremos que observar como será a resposta das provisões nas próximas divulgações.
Eletrobras (ELET3)
Depois da capitalização, a empresa deixou de ter o controle estatal e está passando por uma fase de ajustes em sua operação para migrar da gestão pública para a gestão privada. A divulgação dos resultados da Eletrobras já saiu a partir de sua nova administração.
A empresa divulgou uma receita que passou de 9,2 bilhões de reais no 3T21 para 8 bilhões de reais no 3T22, uma redução de 13%, influenciada pela deflação do período (queda do IPCA e IGPM).
O aumento nas despesas com depreciação, provisão de devedores duvidosos, custos para rescisão de cortes de colaboradores passaram de 12.182 para 10.476. Esses custos fizeram com que a geração de caixa operacional tenha caído 36% de 4,9 bilhões de reais para 3,1 bilhões de reais. O endividamento da companhia cresceu 75%, chegando a 33,5 bilhões de reais, que se deu por conta da integração da SAESA (Sistema de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental) dentro do balanço da Eletrobras.
Com isso, a empresa teve um prejuízo de 90 mil reais, revertendo lucro líquido de 926 bilhões de reais no mesmo período do ano anterior. No entanto, essa fase inicial é vista como um movimento de ajustes pós-privatização e é esperado que ela vá melhorando gradativamente nos próximos trimestres.
Natura (NTCO3)
A Natura, mais uma vez, veio com números abaixo do esperado. As receitas caíram 5,2% na comparação contra o terceiro trimestre de 2021, totalizando 11,7 bilhões de reais. Já a geração de caixa operacional, ficou em 590 milhões de reais, queda de 38,2% contra o mesmo período do ano anterior. Consequentemente, a Natura teve um prejuízo de 560 milhões de reais, revertendo um lucro de 273% do 3T21. O endividamento da companhia cresceu atingindo 4,35 vezes a geração de caixa operacional, patamar bastante elevado, chegando a 8,8 bilhões de reais, esse montante é o dobro do que foi apurado um ano antes no terceiro trimestre de 2021. O mercado não gostou do resultado e as ações abriram o dia 10 de novembro de 2022 caindo -9%.
Iochpe-Maxion (MYPK3)
A Iochpe, que é a maior fabricante de rodas para veículos do mundo, trouxe seus resultados ao público com uma elevação nas receitas de 20,5% na comparação com o terceiro trimestre de 2021, totalizando 4,3 bilhões de reais em faturamento.
No entanto, essa elevação não foi suficiente para cobrir as elevações de custos e despesas que subiram em média 30%, dessa forma, a empresa teve um lucro operacional de 246 milhões de reais, 30,8% abaixo do mesmo período do ano anterior. O resultado financeiro foi de -137 milhões de reais por conta dos juros da dívida a ser pagos. Dessa forma, a empresa encerrou o período com um lucro líquido de 69 milhões de reais, queda de 61% na comparação ano contra ano.
Bem, acredito também ser importante comentar que, hoje pela manhã, tivemos a divulgação de dois dados econômicos importantes e que podem contribuir para as variações de preço no dia.
São eles o IPCA e o CPI, ambos dados de inflação, o primeiro brasileiro e o segundo norte-americano. O IPCA decepcionou e veio em 0,59%, acima do 0,48% esperado. Lá fora, o CPI agradou e veio em 0,3%, abaixo dos 0,5% esperado.
Ambos os dados são de grande relevância, pois dão ao mercado uma sensibilidade de como estão o combate à inflação nesses países e de como os Bancos Centrais devem reagir com as suas taxas básicas de juros.
Nícolas Merola e João Abdouni, analistas CNPI na Inv Publicações.
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